Não posso mentir e dizer que não fiquei um pouco desapontada. Por isso, trago verdades para aqueles que ainda irão se arriscar a ler a obra Tom Sawyer, de Takahashi Shin: o mangá quase não tem nada a ver com o livro de Mark Twain. Mas, no que tange a obra clássica homônima, é pontual e essencial.
Tom Sawyer, de Takahashi, conta a história de Haru, uma jovem adulta que mora sozinha na cidade grande e que se vê tendo que voltar ao interior para acompanhar o enterro de sua mãe. Lá, ela conhece Taro, uma criança de 11 anos que não tem a pele queimada pelo sol e que tem uma expressão muito triste no semblante. Acontece que na sua primeira noite no interior, a gata que morava na sua velha casa também falece e Haru decide enterrá-la ao lado de sua mãe. E nesse caminho ela conhece Taro e daqui pra frente tudo muda em sua vida.
Apesar das primeiras páginas do mangá não darem nenhuma pista da real história que está para acontecer (aliás, nem a minha sinopse), que é na realidade, de um assassinato, desde o início conseguimos sentir um clima que é, na realidade, o ponto que une a obra Tom Sawyer clássica de Twain com a obra oriental de Takahashi: o sentimento de querer ser criança novamente.
No prefácio de livro clássico, Heartford diz que “embora o livro seja destinado principalmente à diversão de meninos e meninas, espero que ele não seja desprezado por homens e mulheres, […] porque parte do plano era tentar gentilmente fazer com que os adultos se recordassem do que já foram e de como eles se sentiam e pensavam e falavam e em que estranhos empreendimentos eles algumas vezes se metiam”. E essa é, de fato, a essência também do mangá Tom Sawyer.
Haru é a jovem cansada de tudo que a cerca na sua vida adulta: o medo de ficar desempregada, a chateação com a faculdade, os devaneios e problemáticas maduras, porém cheias de lamentações da personagem fazem com que ela se entregue à oportunidade que Taro dá a ela de voltar à ser criança. Haru tem vários momentos em que se mistura com as crianças e o leitor já não sabe mais a idade que tem a protagonista.
E, afinal, qual é o adulto de hoje que não quer sentir novamente um pedacinho da melhor fase da vida?
Tom Sawyer de fato não é o que parece, em muitos sentidos, mas de longe é uma experiência ruim. É um mangá divertido, com referências excelentes à obras clássicas e à cultura pop em vários momentos. O plot é interessante e prende o leitor que conseguir passar pelas páginas iniciais que tem um ritmo mais lento, mas interessante e divertido.
O mangá foi trazido para o Brasil pela editora JBC em 2014, em uma edição de volume único lindíssima com 384 páginas, sendo algumas coloridas (e que cores lindas). E, já que estou num desafio pessoal de leitura digital, como falei no meu último texto sobre mangás digitais, li Tom Sawyer pela plataforma Play Livros, da Google, que está disponível tanto para IOS quanto para Android.
E você, vai dar uma chance pra essa viagem por sensações nostálgicas? Se já leu, o que achou? Deixa nos comentários a sua opinião sobre essa obra e sobre essa review.