Depois de muito ver prints, quotes e gifs de Itaewon Class, fui conferir o motivo para esse drama coreano ser tão bem reconhecido por amantes desse tipo de série (e até pela Netflix que me enviou quinhentas vezes como sugestão). É, realmente: faz sentido Itaewon Class estar na lista de tanta gente.
Antes, uma historinha!
Eu já tive um chefe que me inspirava e assistir a essa série me trouxe boas lembranças. Sabemos que não tem como agradar todo mundo e que é difícil encontrar pessoas que tenham empatia de verdade. Assim como Park Saeroyi, o protagonista da história principal de Itaewon Class, esse meu chefe tinha muitas características que faziam a equipe se sentir bem.
Toda reunião que tínhamos ele nos deixava motivados, por isso mesmo ir trabalhar era uma atividade que me deixava feliz, de certa forma. Isso porque mesmo que soubéssemos que seria um dia tenso, que o trabalho seria pesado ou que algo cairia na nossa cabeça, o apoio desse chefe e a rede de amizade que nutrimos como equipe me deixava em paz.
Não era só isso. Todos na equipe faziam de tudo para segurar as pontas e para manter o clima o melhor possível. Eram pessoas com quem se podia dividir desde a notícia do dia até tristezas e alegrias. Cada um ali sentia o calor humano e tinha uma sensação de proteção e carinho que partia do chefe e se estendia aos colegas. Talvez isso tornasse possível perceber o esforço do grupo para que, ainda que parecesse que algo ruim fosse acontecer, não tivesse um impacto estrondoso e temível.
Onde quero chegar com isso?
Simples: eu realmente gostava de entregar resultados naquela equipe. Mais do que tudo, queria ser tão boa pessoa quanto meu chefe. Não se tratava somente de eficiência e sim do pacote completo. Convenhamos, passamos a maior parte do nosso dia junto aos nossos colegas de trabalho e tornar esse tempo de qualidade não é qualquer um que consegue.
Enfim, esse meu chefe tinha um pensamento que é um dos principais temas deste kdrama: nós estamos lidando com pessoas. Parece até redundante falar isso e até achamos meio óbvio de entender, mas cada vez mais tratamos nossas obrigações, nossas vidas e tudo mais, com um olhar que transforma tudo em algo menor, somente rotina. Nos deixamos ser levados pelo dia-a-dia e esquecemos do que faz a humanidade ser boa: a simpatia, empatia, o prestar atenção e o querer bem.
E se tem uma coisa que esse kdrama me chamou a atenção foi a mentalidade e o mote de se pensar nos outros. Não daquela forma de querer fazer tudo por todos, mas sim de ajudar no que puder e ser um ponto de apoio, entendendo que nem todos pensam igual. De ser uma pessoa que se importa, mas que aceita as escolhas pessoais dos colegas, sabe?
E a vingança entra onde nisso?
Aí, você, que leu o título desse texto já deve estar se perguntando: fala de humanidade ser boa mas o que tem de vingança? É, essa série parece pregar pegadinhas. Itaewon Class atrai com as cenas fortes, mas conquista com o coração do protagonista.
Realmente, à primeira vista, essa é mais uma daquelas séries aclamadas em que o personagem principal bota para quebrar depois de ter sofrido horrores. Mas não se engane, a maneira como planejam a vingança é simplesmente boa demais para ser verdade. E percebemos com o andar da carruagem que realmente foi pensada com uma ideologia muito bonita que nos faz torcer ainda mais pela vingança e por grande parte do elenco.
Os dois lados da moeda no plot:
Esse kdrama, em outras palavras, contém uma mistura do plot de vingança, assim como outros clichês indispensáveis em doramas, com uma visão de tornar a vida mais leve. O conforto e o tapa na cara nos atingem no mesmo nível, enquanto pautas importantes são abordadas sem tabu e humanizadas. As personagens não estão longe de nós, pelo menos a maioria delas, como imaginamos. E a todo momento a máxima de se pensar nos outros vem à tona.
Apesar de ter o grande vilão da história, aquele malfeitor, o cara babaca, etc e tal, a criação de personagens ali é muito mais legal do que parece inicialmente. Itaewon Class traz gente de todos os jeitos, com seus pensamentos, formas de agir e pensar. Não tem problema você pensar em si mesmo, não tem problema você ser bobão.
A sinergia de valores e opiniões constrói uma “aula” que normalmente só aprendemos na rua. Está aí uma boa analogia, visto que Itaewon é conhecida como a área em Seul, na Coreia do Sul em que as pessoas são livres (e onde os estrangeiros se reúnem). Assim como mostra a história de Itaewon Class, a vida é toda contorcida e cheia de encontros diferentes. Só nos resta aprender a lidar com eles.
E, voltando ao assunto geral do kdrama, o nosso sonhador e insistente protagonista consegue trazer muito bem essa questão. Ainda que pareça que o protagonismo é de todos, só pelo fato de estar lá, ele é importante e transforma. É muito gratificante ver como todos caminham junto, como equipe, em Itaewon Class. E essa imagem aqui, para mim, é o que mais representa o sentimento que a série tenta passar:
Dessa forma nós temos aqui uma das conclusões, que acho, mais belas em várias histórias: a de aprender com o que aconteceu e de não retaliar do mesmo jeito que chegou para você. Nada de simplesmente aceitar, deixar para lá ou ficar passando mal com um sentimento sufocante, mas não deixar que aquilo destrua a sua vida e a de outros a qualquer custo.
Ou seja…
Ter um objetivo grandioso como uma vingança pode ser um impulso para tirar a vida da mesmice, mas acima de tudo, viver bem e aproveitar o melhor que as relações humanas podem nos dar ainda é o essencial. Talvez as pessoas que vivam com mais qualidade sejam aquelas que aprendem isso e conseguem trazer uma leveza sem abrir mão dos seus conceitos, pensamentos e valores. (E ainda saber muito bem colocar os pingos nos is para demonstrar desaprovação por ações ridículas).
Itaewon Class é um kdrama que é bem construído e impacta de várias formas. Esse texto foi somente sobre uma parte dentre tantas características que fazem valer a pena assistir. Bem, como eu disse no começo do texto, essa série me trouxe boas memórias e passou uma mensagem que aqueceu bem o meu coração. Por isso espero que você que leu até aqui também sinta isso um dia. Afinal, ser acolhido e passar adiante que tudo o que fazemos envolve pessoas… é tão maravilhoso! (E as pessoas são a razão de tudo, né)