Fairy Ranmaru: desconstrução da masculinidade tóxica e primeiras impressões

Ranmaru

Um grupo de cinco fadas homens vão para a terra (Japão, mais especificamente) em busca de “apego”, uma energia que proporciona muitos problemas sentimentais aos seres humanos e que causa muitas dores e frustrações. E esse é o plot base da obra Fairy Ranmaru (ou Fairy Ranmaru: Anata no Kokoro Otasuke Shimasu), anime digirido por  Hishida Masakazu e Kobayashi Kousuke.

Parece, e até é, um enredo muito parecido com o que de muitos mahou shoujos que vemos por aí. Afinal, são 5 colegas que estão em busca de algo e que, para resolver problemas, tem uma belíssima transformação, colorida e cheia de músicas de arrancar o fôlego.

Fairy Ranmaru

Mas, a verdade é que a obra ainda não nos apresentou o que prometeu. E isso é ótimo!

Com um gostinho quase Sakura Card Captors de ser, Fairy Ranmaru tem várias sacadas mais críticas, como o fato de ter episódios iniciais de apresentação de personagens principais, a apresentação de cada música tema de cada personagem, de existir a trajetória Começo tranquilo de episódio > Descoberta do problema > Ápice do problema > Lutinha com transformação e música > resolução do problema > Final fechado do problema.

Mas, a característica que mais me chamou atenção, de longe é que são fadas homens vivendo aventuras e momentos que, até então, só haviam sido vividos por personagens mulheres. Quando falamos de Mahou Shoujos, conseguimos lembrar de cara de várias personagens que são ícones do gênero: Madoka (Puella Magi Madoka Magica), Ichigo (Tokyo Mew Mew), Usagi (Sailor Moon), Sakura (Sakura Card Captor), Ahiru (Princess Tutu), entre outras tantas.

Tokyo Mew Mew

Em linhas gerais, vivemos em uma sociedade em que crianças assignadas ao nascimento como meninos aprendem desde o jardim da infância a se valerem de ferramentas agressivas e verem o mundo a partir de um prisma no qual ou você subjuga ou é subjugado.” É o que diz Isabela Venturosa, num texto para blog mulheres.org intitulado Masculidade Tóxica – O que há para além dela? Ou seja, vivemos em uma sociedade em que meninos são criados para serem protagonistas de Shounen, para participarem de lutas infindáveis que proporcionam a paz mundial ou a queda de um governo do qual eles não se identificam.

O termo Masculinidade Tóxica é utilizado para estereotipar um comportamento masculino, dar nome a um conjunto de mitos baseados no senso comum de que o homem deve ser isso ou aquilo para ser um “homem de verdade”.

Fairy Ranmaru vai contra todo esse comportamento historicamente construído: os personagens são construídos para serem super sensíveis, terem empatia (afinal, o objetivo deles é ajudar em troca do seu coração), cada um com sua característica emotiva. O protagonista Ranmaru Ai, por exemplo, sente os apegos com facilidade e consegue a sua transformação antes dos outros membros do grupo.

Mahou Shoujo

Sem falar claro, do design que adorna todo o anime, que, em cada detalhe remete à uma estética mais sensível, cheia de símbolos, de corações e cores pastéis. E quando falamos no design das transformações dos personagens, vemos cores mais fortes e uma caracterização mais “sensual”, indo de encontro com a ideia de que o “homem de verdade” não deve explorar a sua sensualidade, seu lado “belo”.

Transformação

É interessante pensar que a obra é classificada para um público jovem, que precisa e até anseia por uma obra diferenciada, que traga protagonistas que ajam diferente, que tenham sensibilidade, e vivam histórias que tragam sentimentos diferentes dos que estão habituados a ver temporada após temporada.

Fairy Ranmaru está sendo exibido no Brasil pela plataforma Crunchyroll desde o dia 08 de Abril de 2021 e terá o total de 12 episódios.