Destacamento Blood – A guerra do Vietnã e seus fantasmas

Quatro veteranos afro-americanos lutam contra as forças dos homens e da natureza quando retornam ao Vietnã, décadas depois do fim da guerra, em busca dos restos mortais de seu líder e a fortuna em ouro que ajudaram esconder.

De Spike Lee, Da 5 Bloods, é um filme que estreou na Netflix e foi um dos esnobados no Oscar 2021, levando uma única indicação pela sua trilha sonora. A história vem de um roteiro especulativo, originalmente escrito por Danny Bilson e Paul de Meo em 2013.

Spike Lee trabalhou no roteiro depois do lançamento de Infiltrado na Klan, de 2018 e as gravações começaram em 2019. É o penúltimo filme em que Chadwick Boseman estrela, aliás.

Além de Chadwick, o elenco ainda conta com Delroy Lindo como Paul, Jonathan Majors como David, Clarke Peters como Otis, Norm Lewis como Eddie e Isiah Whitlock Jr como Melvin.

Contexto da época

O filme começa nos dando uma contextualização do mundo na época da guerra do Vietnã, mostrando nomes como Malcom X e Martin Luther King se posicionando contra a guerra. Na época, existiram muito protestos por todo os EUA, muitos eram contra a guerra e achavam-na desnecessária.

O envolvimento dos EUA na guerra se deve da insatisfação com a incapacidade do governo sul-vietnamita de combater as tropas comunistas, ou seja, os EUA queriam conter o avanço do socialismo. A participação efetiva dos EUA começou em 1964 e a guerra se estendeu até 1975.

O resultado da guerra foi considerado um desastre total para os EUA, tanto do ponto de vista militar quanto da reputação do país e da opinião pública.

Além de nos mostrar o contexto do mundo da época, o filme mostra também o passado dos personagens principais intercalados com o presente, quando os quatro soldados restantes do grupo dos Bloods, que é como eles se chamam, retorna ao Vietnã nos tempos atuais.

©Netflix

Liderados pelo carismático Norman, interpretado por Chadwick Boseman, os Bloods encontram uma mala cheia de ouro durante uma batalha. Mesma batalha essa em que Normam morre, e os quatro restantes decidem enterrar o tesouro. Agora, nos tempos atuais, eles decidem voltar ao local e procurar o tesouro. Assim como também recuperar o corpo de Norman para lhe dar um enterro digno.

A história do filme e suas técnicas

A montagem do filme funciona muito bem, é dinâmica e facilita para que o filme flua muito bem. Mostrando passado e presente, fazendo com que tenhamos um entendimento maior das motivações e sentimentos desses homens. Logo quando chegam no Vietnã, há uma tensão no ar. Parece que está tudo bem e os Bloods são recebidos por um guia que os trata muito bem e os outros locais também parecem amistosos.

Mas, quanto mais tempo eles passam no país, mais dá pra sentir que não é tão fácil assim para os vietnamitas conviverem com esses homens americanos, ainda mais que participaram da guerra. Temos, ao mesmo tempo, a constante lembrança, através de discursos do passado, de que a maioria das pessoas que foram mandadas para a guerra foram os negros americanos.

Como todas as guerras, quem mais morre são as minorias. Os grandes e poderosos sempre colocam aqueles menos favorecidos na linha de frente, mas, mesmo assim, há também um orgulho muito grande dentro do grupo.

Paul, interpretado por Delroy Lindo, principalmente, é quem tem mais destaque. Vemos claramente que ele possui sequelas da guerra e stress pós-traumático, mas não deixa de se orgulhar de ter lutado. É ele também que tem mais preconceito com os vietnamitas, chamando-os de amarelos e se sentindo claramente desconfortável de estar na presença deles.

Paul é mostrado como apoiador do Trump, aliás, mas vemos que ele não está em sã consciência. Ele é um homem instável e quem parece ter uma ligação mais forte com Norman. Mais para o final do filme descobrimos o porque de ele estar tão perturbado, principalmente com a morte de Norman.

©Netflix

Delroy Lindo deveria inclusive ter sido indicado como melhor ator no Oscar. É ele quem entrega a melhor interpretação dos principais atores, junto de Chadwick, que poderia ter sido indicado como coadjuvante. Mas Chadwick acabou sendo indicado por A Voz Suprema do Blues, que é a interpretação realmente mais marcante dele. Mesmo assim, é impossível não admirar o quão impactante é sua presença, mesmo que apenas em flashbacks.

Atuação aliada à forma da narrativa

Umas das cenas mais bonitas são, sem dúvida, as transições entre o presente e passado através da visão de Paul. Ele enxerga e conversa com Norman várias vezes. A revelação final do porque Paul ter tanto stress quanto a tudo isso é emocionante. Delroy fala com a câmera e é como se falasse com o público diretamente, o que dá mais emoção ainda a seus momentos finais no filme.

Mesmo preparados, o grupo dos Bloods encontra muitas dificuldades até encontrar o corpo de Norman e o tesouro escondido. É uma missão que fica cada vez mais complicada com o envolvimento de locais que também querem esse ouro. A ganância, mais uma vez, em destaque.

É como se o local os tivesse expulsando e lhes dizendo que eles não deveriam estar ali. Entre minas que explodem e enfrentamento dos vietnamitas, o grupo vai se desfazendo e perecendo. É algo que é extremamente sufocante. Mesmo não sendo um filme de suspense, a tensão nos deixa de cabelo em pé, com medo do que pode acontecer.

A marca de uma geração

A trilha sonora de Terence Blanchard, parceiro de longa data de Spike Lee, é extremamente marcante e, junto de músicas de Marvin Gaye, por exemplo, são perfeitas. Destaque para a música “What’s going on?”, clássico da época e marcante até hoje.

Além disso, a fotografia é também o que auxilia na diferenciação do passado e presente na história. Quando a tela fica em forma widescreen, estamos no presente. Já quando está mais quadrada, é o passado que é mostrado.

Destacamento Blood é um filme que funciona muito bem. Ótima direção, roteiro, atuações, tudo se encaixa. Além disso, o filme traz debates importantes, como o preconceito que pode haver entre pessoas de minorias. Também vemos como as sequelas da guerra nunca desaparecem. São fantasmas que continuam vivos, assim como a memória daqueles que perderam suas vidas.