Eu me importo – Você é leão ou cordeiro?

I care a lot é um filme de drama cômico lançado pela Netflix, dirigido por J. Blakeson e estrelado por Rosamund Pike, Eiza González e Peter Dinklage.

Na história, Marla é uma mulher que ganha a vida roubando de idosos, enganando juízes para que a apontem como tutora legal dessas pessoas. Ela age junto com uma médica e sua namorada, Fran. Tudo vai bem até que ela passa a perna em uma senhora que tem ligação com pessoas muito perigosas.

No início do filme temos uma grande introdução a personagem de Marla. Vemos que ela foi uma pessoa que passou dificuldades e resolveu agir para se tornar uma pessoa de sucesso e muito dinheiro. Em seu longo monólogo, ela pergunta: “Você é leão ou cordeiro?”. Marla é uma pessoa que se corrompeu para ter muito dinheiro, que, com a ajuda de uma médica que lhe passa informações sobre seus pacientes, escolhe seus alvos: idosos que precisam de cuidados, tornando-se tutora com a intenção de os explorarem.

É difícil de formar uma ligação com a personagem, por mais que a história nos mostre o quão ela tem uma forte identidade. Marla é poderosa, mas não tem nenhum caráter. No fundo, não parece mesmo que o filme queira que tenhamos simpatia por ela, pelo contrário, a história tem como objetivo mostrar como o dinheiro e o poder corrompem as pessoas, fazendo-as acreditarem que as más ações é o certo a se fazer.

©Netflix

A presença de Rosamund Pike é muito marcante desde o início da trama, tanto que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de comédia ou musical. Sua interpretação é o ponto alto do filme, ela é envolvente, fria e calculista (lembra até um pouco seu papel em Garota Exemplar). Sua química com a atriz Eiza González também é palpável. As duas são o ponto central do filme, e é importantíssimo essa conexão das atrizes para que o filme seja bem-sucedido. Peter Dinklage também está bem, mas seu papel, por vezes, parece um tanto caricato.

A fotografia é muito boa, com seu foco nos rostos dos personagens, temos uma sensação de intimidação, como se estivéssemos olhando diretamente para eles. Marla nos encara o tempo todo de frente, e isso ajuda muito a passar a sensação de frieza e potência de sua presença.

Um ponto que me incomodou foi o roteiro, que começa bem e forte, mas vai decaindo do meio para o final da longa. A história coloca Marla em situações que seria meio impossível da personagem sobreviver, além de ela conseguir chantagear a própria máfia, com anos de atuação. Ademais, o final do filme parece meio fraco, mostrando Marla se dando bem. É importante falar: é impossível torcer por ela, mas também é óbvio que não há “mocinhos” nesse filme. Todos fazem coisas horríveis. Mesmo assim, o sucesso dela não dura muito tempo, e logo temos uma certa “justiça” ao final do filme.

“Eu me importo” não deixa de ser também uma crítica social, mostrando o quão corrupto o sistema pode ser. Deixando idosos largados aos cuidados, muitas vezes frios de instituições, além de serem explorados por sua fraqueza devido à idade. Além disso o filme levanta a questão: vale mesmo a pena se corromper e prejudicar os outros para ter uma vida mais “fácil” com dinheiro e poder?