Ammonite: As sutilezas do amor

Ammonite é o segundo filme do diretor Francis Lee (O Reino de Deus), que além de dirigir também escreveu o longa. A história segue uma paleontóloga britânica durante o ano de 1840. Francis Lee tomou a liberdade de imaginar como seria a vida e o trabalho de Mary Anning e seu possível envolvimento amoroso com a geóloga Charlotte Murchinson.

Estrelado pelas incríveis Kate Winslet e Saoirse Ronan, o filme estreou no Festival de Toronto no dia 11 de setembro de 2020, distribuído pela Lionsgate.

Mary Anning é uma mulher que vive com sua mãe na região do Lyme. Elas vivem em uma loja simples aonde Mary vende fósseis e pedras para os turistas. Ela também encontra fósseis na praia os quais ela vende para os ricos, e nunca recebe reconhecimento por isso. Todo o reconhecimento pelas descobertas dela são dadas aos homens. Pelo menos com isso, ela consegue sobreviver e se sustentar.

Um dia, um rico europeu aparece na loja de Mary, junto de sua jovem esposa, Charlotte. Ele se aproxima de Mary com o interesse de aprender com ela. Depois de um tempo, ele acaba deixando Charlotte, sua esposa, aos cuidados de Mary, para que ela se recupere da depressão (o que ele chama de “melancolia”). Vemos que Mary não fica nem um pouco feliz com isso, que ela é solitária e não gosta de se envolver demais com as pessoas. Além disso, ela e Charlotte vem de origens muito diferentes, de classes distintas, o que as separa mais ainda.

©Lionsgate

Charlotte claramente tem traumas em seu passado, e Mary é uma pessoa fechada, o que faz com que a relação das duas comece turbulenta. As duas têm personalidades diferentes também e não se entendem. Além disso a mãe de Mary também não gosta da ideia de Charlotte estar com elas, mas como o marido de Charlotte pagou por isso, a situação se mantém.

É quando Charlotte fica muito doente e Mary cuida dela. A partir daí, uma relação mais amigável entre elas aflora e, depois de um tempo, algo a mais. É visível o interesse de uma pela outra, mesmo com as diferenças. Charlotte deixa Mary curiosa e Charlotte fica cada vez mais admirada por Mary e seu trabalho.

A história é bem lenta, os dias passam devagar, o que reflete a rotina das pessoas naquela época. Parece que o tempo não passa e os planos longos da fotografia transmitem muito isso. Muitas das cenas mostram as personagens fazendo coisas simples, procurando fósseis na praia e caminhando. A troca de olhares e a expressão das atrizes transmite tudo que elas sentem. Vemos que Charlotte observa Mary quando esta não está a olhando e vice-versa, pontuada também por uma trilha sonora que aparece apenas em momentos certeiros. Kate Winslet passa muito bem a seriedade de Mary, sua personalidade fechada e solitária na expressão de seu rosto e movimentos. Enquanto que Saoirse Ronan expressa bem a melancolia e tristeza de Charlotte carrega em seu ser. Através da relação que elas criam, as duas começam a sair de seus casulos e mostrando partes de suas personalidades que elas não haviam mostrado a ninguém antes. Uma conexão muito forte se forma entre as duas.

©Lionsgate

É impossível de não comparar Ammonite com outros filmes queer de época lançados recentemente, como Retrato de Uma Jovem em Chamas, que também explora um relacionamento entre duas mulheres. Até o fato de as personagens estarem isoladas e se aproximarem aos poucos, com poucas falas, é visto nesse filme.

O roteiro de Francis Lee desenvolve muito bem as personagens e seus sentimentos. As coisas acontecem aos poucos, de maneira singela e muito verdadeira. Apesar de não saber-se como era a vida de Mary e seus relacionamentos, o diretor conseguiu explorar bastante seu roteiro através de especulações, além de mostrar o quanto muitas mulheres no passado fizeram descobertas incríveis e nunca foram reconhecidas. O apagamento da história feminina é criticada no filme.

Apesar de ser um diretor e explorar o relacionamento de duas mulheres, as atrizes parecem ter se sentido a vontade com ele para atuar. Principalmente em cenas mais explícitas, além de terem tido uma química impecável uma com a outra, o que é o principal ponto forte do filme. Para quem se interessa por um filme de romance, mas que é mais lento e introspectivo, Ammonite é uma ótima opção.