Por 10 semanas fiquei grudado no drama de terror da HBO, “Lovecraft Country”.Essa jornada terminou no domingo passado com um final de temporada assustador. A HBO continua se superando e sua nova fantasia expande os limites do que a TV pode ser.
Sinopse: Chicago, 1954. Atticus Turner (Jonathan Majors) é um veterano do exército que vê sua vida mudar quando seu pai desaparece misteriosamente. Decidido a encontrá-lo, o jovem embarca numa viagem de carro ao lado do tio George (Courtney B. Vance) e da amiga de infância Letitia (Jurnee Smollett), mas a jornada logo se revela muito mais perigosa do que eles esperavam.
Inspirado no universo fictício de HP Lovecraft e baseado no romance de 2016 de Matt Ruff, Lovecraft Country conta a história de um veterano da Guerra do Vietnã chamado Atticus Freeman, que junto com sua amiga de infância Leti e seu tio George, faz uma viagem através dos Estados Unidos racialmente segregado e fantástico dos anos 1950 para procurar seu pai desaparecido.
O criador Misha Green (“Spartacus”) consegue atrair um público moderno e faminto por representações diversificadas na tela, mexendo com uma infinidade de ideias e com visuais exuberantes de época, trilha sonora envolvente e temas raciais por todos os lados, essa série foi um deleite semanal.
Co-produzida por Jordan Peele e JJ Abrams, Lovecraft Country usa desde palavras a gestos como símbolos de resistência negra para comentar sobre os horrores reais que a comunidade continua a enfrentar, décadas desde a abolição e nada mudou. É difícil reduzir séculos de opressão em uma metáfora abrangente sobre monstros, mas essa série consegue fazer isso muito bem, especialmente graças ao seu criador Misha.
Assim como American Horror Story foca em um subgênero do terror diferente a cada nova temporada de sua série antológica, Lovecraft Country aumenta a aposta utilizando um subgênero de terror diferente para cada novo episódio.
O Episódio 1 é utilizado criaturas mágicas para desenvolver o episódio, o Episódio 2 explora vampiros de um culto bíblico, o Episódio 3 é uma história de fantasmas em uma mansão mal-assombrada, o Episódio 4 é uma homenagem com muitas armadilhas a Indiana Jones, o Episódio 5 usa uma poção de metamorfose para focar no terror corporal.
Seria difícil acompanhar o desenrolar da série se ela não mantivesse uma linha direta com personagens consistentes perseguindo desejos e necessidades em uma história abrangente. Ela mantém a mesma linha para os primeiros cinco episódios, mas o fluxo muda no meio da temporada para uma abordagem mais dispersa à medida em que mergulha mais fundo em vários personagens secundários.
Por exemplo, o episódio 6 nos leva a um desvio internacional para a Coreia, é explorado a história de fundo de uma das ex-amantes de guerra de Atticus. Da mesma forma, o Episódio 7 dá o palco a Hipólita para viajar no tempo e habitar diferentes corpos ao longo da história.
Tudo se conecta no episódio 8 com a revelação do que Lovecraft Country significa. Mesmo assim, as regras de magia permanecem um pouco confusas. Ao longo da série, os personagens morrem e voltam à vida, diminuindo assim a real sensação de perigo.
O penúltimo episódio mostra o massacre de Tulsa de 1921, embora Watchmen (2019) da mesma HBO tenha nos contado essa historia alguns meses atrás, Lovecraft Country nos mostra com um olhar mais fantasioso dessa tragédia.
Um dos destaques da série com certeza são seus atores, especialmente Jurnee Smollett. Ela interpreta a linda e confiança Leti, uma antiga amiga de colégio de Atticus, uma fotógrafa de belas artes e uma leitora do terror Lovecraftiano. Ela tem um relacionamento conturbado com sua meia-irmã Ruby (Wunmi Mosaku), uma cantora de um pequeno clube.
O horror lovecraftiano é definido pelo desconhecido. O que se esconde nas sombras costuma ser mais assustador do que o que realmente pode ser visto. Mas a supremacia branca, que é a metáfora usada aqui, não é invisível. É manifestado por homens que pisam no pescoço de jovens negros, abafando seus pedidos de misericórdia. Esses são os mesmos homens que atiram em crianças desarmadas pelas costas e são soltos facilmente, como se nada tivesse acontecido.
“Não consigo respirar”, diz uma jovem em uma cena, enquanto dois policiais brancos, ambos armados com seus revólveres de serviço a estrangulam em seus braços, eles também são praticantes de magia e lançam um feitiço sobre dela. Em outra cena, quando os policiais são convocados para investigar uma família negra que acaba de se mudar para uma grande casa em um bairro branco, todos os moradores caminham para o gramado da frente em uma clara manifestação de racismo.
Lovecraft Country se concentra nas relações familiares feridas, inimigos e frustrações, o que é mais interessante do que assistir pessoas lutando contra feras do inferno. Menos assustador do que monstros feitos em CG é a realidade.
Lovecraft Country é uma das séries que você não pode deixar de ver esse ano, nem que seja para experimentar os saltos e limites que a televisão convencional está alcançando. Apesar da pressão quase constante das gigantes dos streamers, a HBO permanece mostrando que sentar na frente da TV toda semana pode ser algo prazeroso.
A 1ª temporada de Lovecraft Country pode ser vista no serviço HBO+.
Nota Final: 5 / 5