Se eu pudesse resumir a HQ de Tokyo Ghost, a palavra “inesperada” seria completamente apropriada. Com um início frenético e rico em detalhes, somos lançados num mundo cyberpunk no ano de 2089 onde o planeta foi tomado pelo oceano com aguas poluídas, e com uma humanidade viciada em tecnologia. Ao longo da leitura podemos notar influências de grandes obras da ficção cientifica diatópica, como por exemplo, Blade Runner do escritor Philip K. Dick, Neuromancer de William Gibson, e também Akira, de Katsuhiro Otomo, e em alguns momentos, a história também se arrisca em referenciar a cultura dos samurais japoneses.
Neste universo as pessoas em sua grande maioria são desempregadas e doentes, vivem em busca de alienação e um pouco de paz que só lhes é oferecido pelo êxtase das drogas digitais.
A leitura flui nos fazendo acompanhar um casal, Led Dent e Debbie Decay. Os nossos protagonistas aqui são os chamados “delegados”, responsáveis por caçar e prender os criminosos locais.
Aqui, o enredo nos entrega dois protagonistas que poderíamos chamar de anti-heróis. Led é um modificado, sua mente vive dopada com drogas cibernéticas, seu corpo passou por diversas modificações, a sede em tornar-se um homem forte o fez sucumbir ao sistema deturpado que Tokyo Ghost friza para os leitores quadro a quadro.
Debbie é a protagonista “pé no chão”, ela não se modifica, não utiliza drogas, e o seu amor por Led à mantém sempre perto dele, afim de que um dia ela possa mantê-lo longe de toda a droga e alienação do mundo.
Em uma de suas missões, Led e Debbie vão para Tokyo, onde encontram um paraíso livre de tecnologia. Uma vila liderada por Kazumi.
Ali, Kazumi ensina Debbie e ajuda Led em sua reabilitação. Ambos iniciam sua jornada de redenção, vivendo em comunidade com as pessoas que residem naquela vila, e aprendendo todos os dias o quanto a humanidade foi perversa com a natureza.
Mas, nem tudo são flores (como sabemos), a história tem a sua reviravolta e Led acaba sendo jogado de volta no mundo das drogas tecnológicas, e um ataque a vila faz com que Kazumi seja assassinada, a partir daí, um novo personagem surge em busca de vingança pelos mortos naquela vila: O fantasma de Tokyo.
Tokyo Ghost conta com um cenário colorido e pode inicialmente parecer confuso e poluído, mas para mim ele combina com o tom do enredo, um mundo tecnológico completamente alucinado pede uma arte exatamente como a que foi feita. É interessante apenas observar alguns objetos no fundo, analisar os personagens secundários ao fundo e perceber o quão louco algumas coisas aparentam ali.
A edição da darkside como sempre é bem completa, a edição conta com uma galeria com capas alternativas dos dez volumes separados e com um sketch book de rascunhos dos desenhos e do roteiro.