Children of the Whales: Entre a lógica e a emoção

Capa do mangá de Kujira no Kora

Em busca de retratar a perda da inocência das crianças, deixando de lado a infância para conseguirem sobreviver por conta da guerra, Children of the Whales traz o olhar infantil sobre situações permeadas pelo sofrimento. Tanto a guerra, como tradições e a busca da repressão das emoções entre os cidadãos da Ilha da Baleia de Lama causam debates e desejos reprimidos entre os personagens. 

Children of the Whales, ou seu título em japonês Kujira no Kora wa Sajou ni Utau (Tradução: Filhos da Baleia) é um mangá escrito e ilustrado por Abi Umeda. Sua adaptação para anime foi feita pelo estúdio J.C. Staff no ano de 2017 e foi licenciada globalmente pela Netflix em 2018. 

Portanto, o anime busca representar como as crianças se comportam em relação às tradições da ilha, em questão de seus desejos e emoções que são reprimidas. Temos a questão também da morte que é algo comum para aquelas pessoas, além da guerra que chega depois para causar mais perdas e feridas. Portanto, Children of the Whales traz um impacto muito grande ao espectador, onde as crianças vão ter que deixar sua infância de lado para conseguirem sobreviver.  

Enredo de Children of the Whales

A Ilha da Baleia de Lama se move sem rumo pelo mar de areia onde os aldeões não conseguem comandar o caminho que querem seguir. Na ilha, moram dois tipos de pessoas, os considerados pessoas normais, que vivem tranquilamente por longos anos, e os chamados de Marcados. Os Marcados são aqueles que possuem habilidades sobrenaturais, tendo um poder chamado Timia, e que acabam vivendo até em volta de seus 30 anos. Na ilha, é mais comum que possuam mais Marcados do que pessoas normais, por isso é bastante comum que se encontre mais crianças e adolescentes do que pessoas mais velhas.

A história de Children of the Whales foca no protagonista Chakuro, uma criança Marcada. Ele é o arquivista da ilha, ou seja, ele passa seu tempo documentando tudo o que acontece na Ilha da Baleia de Lama. Chakuro é um jovem curioso, ele também documenta ilhas que eles vão descobrindo durante o caminho sem rumo que a ilha faz. 

O anime começa quando os habitantes descobrem uma nova ilha. Lá, eles encontram vestígios de uma civilização arcaica. Especificamente, Chakuro encontra Lykos, uma garota que não transmite emoções, onde ela acaba mudando o destino dos habitantes da Ilha da Baleia de Lama

Lógica: Tradições da Ilha da Baleia de Lama

No primeiro episódio do anime é mostrado como funciona a Ilha da Baleia de Lama. Quem são os moradores, os Marcados, o problema da ilha, e as regras e rotina que normalmente os moradores seguem. Isso tudo é relatado por Chakuro, onde temos uma narração do personagem e também captamos a proposta com algumas cenas que acontecem no primeiro episódio. Como por exemplo, logo nos primeiros minutos do episódio, temos o velório de uma mulher que tinha mais ou menos 30 anos. Ela então é uma mulher Marcada. Chakuro ali reforça que normalmente os cidadãos não choram nos enterros por conta de uma tradição. Mas o mesmo acaba chorando, fazendo os moradores repreenderem o garoto. 

Começamos a entender então as tradições da Ilha da Baleia de Lama. Os cidadãos prezam muito mais o lado da lógica do que a emoção. Temos outra cena em que Chakuro está conversando com Suou, um humano comum. Suou segura suas mãos, fincando as unhas nas juntas da mão. A cena mostra alguns machucados na mão de Suou e Chakuro comenta que esse tipo de gesto é muito comum entre os aldeões pois quando os sentimentos estão transparecendo, eles fazem esse tipo de gesto para reprimir as próprias emoções. 

Assim, seguindo as tradições da Ilha, os moradores não possui desejos de mudança. Eles acabam vivendo em uma bolha de desinformações, sem esperar algo diferente ou uma mudança, em que façam eles conseguirem sair da ilha, ou navegar com a mesma, só que com um rumo, ou muito menos conseguirem salvar os Marcados que acabam morrendo tão jovens. Aqueles que acabam pensando diferente, acabam tendo seus sonhos reprimidos, ainda mais pelos anciões da ilha, os que comandam a mesma e que tentam seguir as tradições à risca. 

O lado da emoção: Desejos e sentimentos reprimidos

Seguindo a linha de raciocínio sobre a questão das tradições da ilha e os problemas da questões dos Marcados, podemos entender como isso influencia o lado emocional dos moradores, inclusive das crianças e jovens. Temos a primeiramente a questão da vida dos Marcados, onde eles não conseguem viver mais do que 30 anos. Muitos ali então já vivenciaram o falecimento de pessoas conhecidas e familiares, onde é muito comum que algumas crianças já perderam seus pais tão jovens. Já os não Marcados, mesmo conseguindo viver por mais tempo, ainda são poucos, e muitos deles, inclusive Suou, estuda uma forma de ajudar os Marcados a viverem mais, passando por frustrações a cada falha que a pesquisa mostra. 

Analisando essa lógica, os moradores da Ilha da Baleia de Lama têm que aceitar a morte precoce. Assim, os mesmos seguem uma tradição de anos da Ilha em que eles não podem chorar em enterros, o que é uma forma de conter a dor. Temos a questão também da aceitação dos Marcados sobre terem que aceitar os poucos anos que têm para viver, onde muitos não vão poder realizar seus sonhos no futuro. Temos o exemplo do personagem Ouni, adolescente de 16 anos que sonha viver fora da Ilha da Baleia de Lama. O mesmo não aceita a desinformação que tem sobre o resto do mundo. Mas acaba sendo improvável que ele consiga sair da Ilha. Primeiramente pela questão de que os moradores não conseguem controlar os movimentos da Ilha da Baleia de Lama, então é impossível navegar para algum lugar em sua escolha. E também, pela questão que ele provavelmente vai morrer jovem porque ele é um humano Marcado

As tradições são quebradas e os sentimentos dos personagens vem à tona quando a Ilha da Baleia de Lama é invadida por conta de Lykos. Os invasores, como Lykos, não possui nenhuma emoção, o que torna uma tarefa “normal” para eles atirarem e machucarem os jovens da ilha. Depois da invasão, tendo um momento mais de calma, os personagens fazem o enterro das pessoas que perderam sua vida na invasão. Muitos ali não aguentam e acabam chorando, quebrando a tradição de anos da ilha.  

A perda da inocência das crianças em Children of the Whales

Por conta dos momentos de tensão e angústia que os personagens vão passar durante a batalha para conseguirem salvar os habitantes e a Ilha da Baleia de Lama, os sentimentos vêm à tona. Desse modo, o espectador vai acompanhar cenas emocionantes e angustiantes. Por mais que os moradores sigam momentos de lógica para conseguirem vencer a batalha, o que vai transparecer mais vai ser as emoções dos personagens. E isso acaba os tornando mais humanos. 

As crianças vão ter que trocar a infância e o pouco tempo de vida que eles têm para se dedicarem a salvar a Ilha da Baleia de Lama, onde também muitos vão ter que lutar, usando sua Timia como a principal arma. No entanto, os personagens vão revelar finalmente seus desejos e sentimentos, onde muitos jovens, após esse grande contratempo, vão sentir vontade de sonhar por mudanças e por um futuro melhor.