Histórias Cruzadas – A voz do silêncio

Em muitos momentos, acabamos presenciando algumas situações que nos fazem refletir sobre nosso comportamento e atitudes, justamente uma situação assim, permitiu que a lembrança de um ótimo filme aflorasse em meus pensamentos. Histórias Cruzadas, é um filme do início da década passada, mais precisamente de 2011, que obteve um grande sucesso devido ao tema abordado e ao elenco gracioso que contém. O filme recebeu diversas indicações, premiações e, chegou a levar o Oscar pela categoria de melhor atriz coadjuvante.

Com um roteiro maravilhoso, o longa explora temas polêmicos como o racismo, a diferença entre classes sociais, violência doméstica, padrões de beleza impostos e o modelo tradicional patriarcal, se mostrando totalmente atual e utilizando uma abordagem bastante sutil, sem deixar de lado a forte crítica em relação a tudo isso. É possível notar como os valores sociais são questionáveis e leva o espectador a uma reflexão.

A trama se passa entre 1940 e 1960, época em que a segregação racial nos Estados Unidos era totalmente aceitável e bastante explícita, pessoas negras eram obrigadas a aceitarem cargos, na época eram considerados inferiores, que consistiam em serviços braçais. Exatamente nesta posição que se encontra Aibileen (Viola Davis), uma empregada doméstica que trabalha para uma família de classe alta, sendo responsável pelos afazeres da casa e por cuidar das crianças.

A história de Aibileen se destaca quando ela encontra Eugênia (Emma Stone), uma jovem branca que também faz parte dos círculos sociais de classe alta, mas que devido a uma educação mais questionadora e uma visão mais ampla e moderna, não se encaixa muito bem nos padrões estabelecidos na época. Eugênia, consegue um trabalho em um jornal local como colunista de limpeza, mas como ela não entende nada do assunto acaba solicitando a uma amiga que permitisse que Aibileen a ajudasse.

Eugênia em suas conversas com Aibileen e após testemunhar as atitudes de suas amigas,  sente o interesse de contar a história desta classe trabalhadora pela perspectiva delas, rapidamente Eugênia entra em contato com uma editora famosa em outra cidade, que se interessa pelo projeto e a estimula procurar o maior número de relatos possíveis sobre as condições e situações que estas empregadas eram obrigadas a suportar, começa então a missão de Eugênia em dar voz aqueles frequentemente silenciados.

O primeiro relato que Eugênia consegue é de Aibileen, que resolve ajudá-la um pouco mais profundamente e convence sua amiga, Minny (Octávia Spencer), a testemunhar também. Juntas, as três batalham firme para conseguir mais relatos, mas acabam não conseguindo o auxílio de mais ninguém, todas tinham medo das represálias e ameaças que pudessem vir a receber e, principalmente tinham medo de perder o emprego e não conseguir mais uma fonte de renda para seu sustento, ainda mais em uma época em que havia um abismo social muito maior do que possuímos hoje.

No entanto, situações de desrespeito, preconceito, opressão e injustiça, eram frequentes na vida destas pessoas e após um triste incidente de violência policial contra uma de suas colegas, as empregadas resolveram que já era hora de se posicionar contra este abuso e acabaram se unindo e contando todas as injustiças sofridas em seus ambientes de trabalho. Logo os relatos coletados por Eugênia se transformaram em um livro e começou a ser lido por todos, uma pequena vitória, mas que possuía um significado incrível.

Acredito ser injusto quanto a profundidade deste filme, na verdade existe muito mais nele do que eu possa relatar, foram várias cenas executadas representando contextos históricos, comportamentos mesquinhos, assuntos delicados e injustiças gratuitas distribuídas no cotidiano que se torna inviável um comentário rápido. O desenvolvimento do filme permite que possamos notar estas questões e faz isso de modo leve, permitindo ao mesmo tempo que o filme seja envolvente e agradável de se ver.