Curtas da Cal-Arts: onde os grandes começam

Quando eu penso em produtores de conteúdo, geralmente eu reflito em cima das influências e escolhas que os levaram a essa específica carreira, quais paixões estão em ação na força de vontade para criar? Stephen King – autor de horror renomado, por exemplo, escreve para sufocar os terrores que o assombram. Animadora e artista conceitual de Brand New Animal, Genice Chan, ama desenhar desde que se entende por gente e apenas seguiu seus sonhos. Ousando ser um pouco pretensiosa, eu escrevo semanalmente porque sempre gostei de reclamar. Todos os criadores têm a vontade de extravasar sua imaginação e, para isso, investem no aperfeiçoamento de suas habilidades.

Seja de maneira autônoma ou com tutores, produtores exploram os seus limites experimentando suas competências. É assim como muitas instituições se estabelecem, mirando na promessa de uma fagulha criativa. Foi com essas intenções que Walt Disney e seu irmão Roy fundaram o famosíssimo California Institute of Arts (CalArts) em 1961, ambicionando tornar a escola uma “‘comunidade de artes’ multidisciplinar”. Como você está lendo este texto aqui agora, não preciso dizer o quanto deu certo. Para você ter uma ideia sobre CalArts, o espaço é Alma Mater de muitos nomes notáveis da indústria, entre eles (mas não limitado a): Alex Hirsch (Gravity Falls); Stephen Hillenburg (Bob Esponja); Tim Burton (Noiva Cadáver); e Craig McCracken (As Meninas Super-Poderosas).

Arte representando os diferentes departamentos da CalArts

Sendo a casa de tantos indivíduos importantes no setor artístico, muitas obras excelentes já são lançadas mesmo durante os quatro anos do curso, destacando os melhores para adentrar a indústria. Essas produções são divulgadas gratuitamente na internet, geralmente pelos próprios autores na plataforma Vimeo, e há anos eu as acompanho. Resolvi hoje compartilhar três das minhas animações estudantis favoritas. Um sabor de promessa para vocês.

A tal lendária casa

1. Kagemono: The Shadow Folk (2012)

Se é possível pensar em algum dos trabalhos que eu apresento aqui como quintessencial da estética Disney, Kagemono é esse. Uma raposinha à caçada de uma refeição adentra o perigo de ser a presa de outra criatura que ela sequer pode se defender. A criadora Sabrina Cotugno, com seus delicados e charmosos traços conseguiu gerar uma narrativa sem a necessidade de diálogos para ser completa em si, e não é surpreendente a divulgação desse curta em um dos canais oficiais da Disney no Youtube.

2. Diamond Jack (2017)

Afastando-se um pouco dos estilos tradicionais de contar uma história, Diamond Jack oferece uma experiência mais próxima de um vídeoclipe, com a canção “The Villain I Appear to be” ditando o ritmo das ações. O nosso protagonista rouba um diamante caríssimo e, ao fugir da polícia, há indícios de que a situação não é necessariamente o que parece. Rachel Kim, ainda que não possua a mesma sofisticação dos outros desenhos aqui recomendados, oferece uma animação energética, divertida, e certamente cativante.

3. There’s a man in the woods (2014)

Esse último trabalho é o mais diferente dos anteriores. Contado inteiramente em rimas, There’s a man in the woods oferece uma história sombria e madura, com nuances e sugestões através do monólogo enlouquecedor do seu narrador à beira do desastre. É envolvente e muito emocionante, deixando-me boquiaberta todas as vezes que assisto a essa criação. Seu autor Jacob Streilein foi extremamente sagaz em todas as escolhas criativas e não tenho nada além de elogios.

Animação é uma mídia viva, pulsante, colaborativa. Claro que apontei nos curtas acima mencionados um autor central, porém essa é uma arte que exige participação e engajamento da comunidade. Com trabalhos tão excelentes lançados todos os anos, sinto-me otimista com as safras por vir e espero que com essas recomendações você possa ter visto o porquê.