Lançado em 2010, Angel Beats é um anime que retrata um mundo de vida após morte, no qual adolescentes começam uma batalha contra Deus, que é o criador daquele mundo. Assim, após 10 anos do lançamento deste anime, podemos ainda considerar Angel Beats como um bom anime?
Angel Beats é um anime original escrito por Maeda Jun, criador também de animes como Charlotte (2015) e Clannad (2007). A obra foi animada pelo estúdio P.A. Works, contando com 13 episódios. A história se passa em uma escola que funciona, na verdade, como um limbo para aqueles que morreram e experimentaram dificuldades ou traumas enquanto estavam vivos. Portanto, este mundo serve para estas pessoas aceitarem as suas vidas antes de receberem uma segunda chance na vida.
Acompanhamos então o protagonista Otonashi chegando neste mundo, que perdeu suas memórias depois de morrer. Ele se encontra com Yuri, uma garota que o convida para se juntar à “Frente de Batalha Pós Vida”, uma organização cujo objetivo é lutar contra Deus, por causa das experiências negativas que todos os membros passaram quando estavam vivos. O único inimigo do batalhão é uma menina chamada “Anjo”, que usa poderes sobrenaturais contra a organização.
O anime ainda é considerado uma das obras mais emocionantes pelos fãs. No ano de 2017, o site Charapedia fez uma pesquisa com os usuários japoneses sobre quais animes os emocionaram mais e Angel Beats acabou na quinta posição. Outro anime de Maeda Jun que ficou no ranking foi Clannad, considerada ainda como uma de suas obras mais tristes. Desta forma, vamos analisar do porquê Angel Beats é um dos animes que mais marcaram os fãs e se realmente o enredo da obra vale tanto a pena como dizem.
Análise técnica
Com certeza você que já assistiu Angel Beats sempre acaba se lembrando da música da abertura do anime. Uma das músicas mais icônicas de abertura de animes, “My Soul Your Beats” foi composta pelo próprio criador do anime, Maeda Jun, e é cantada por Lia, que também costuma cantar outras aberturas de animes que Maeda está envolvido.
A trilha sonora é um dos pontos positivos da obra. A mesma consegue ambientar muito bem as cenas, seja elas de luta, ou de um momento mais sério. Outro fator positivo é da banda Girl Dead Monster, grupo formado pelas personagens Iwasawa e Hisako do batalhão para cooperar em determinadas operações.
Assim, acompanhamos algumas músicas que acabam se encaixando como trilha sonora no anime. Acompanhamos a banda tocar e, às vezes, em comparação com alguma operação do batalhão. Vale ressaltar que, depois que Yui assume como vocalista da banda, quem faz a parte em que a personagem canta é a LiSA, cantora japonesa muito famosa que já cantou muitas aberturas de anime. A personagem Iwasawa é feita pela cantora Marina.
Outro ponto que deve ser comentado é a animação. A P.A. Works trabalha muito bem com as cenas, ainda mais nos momentos em que a banda Girl Dead Monster tocam ou até em momentos de ação que são considerados mais sério, em que a organização luta contra o “Anjo”.
Worldbuilding
Um dos elementos que talvez levam mais a gente ter interesse por Angel Beats é o worldbuilding, ou seja, o processo de construção do mundo no qual se passa a história. O processo baseia-se em elementos muito bem especificados, no qual os personagens seguem regras para conviver naquele universo. Um exemplo de regra é se o personagem morrer, ele vai “reviver” no mundo sem nenhum ferimento.
A ideia daquele mundo é mostrado por Yuri (ou como a chamam, Yurippe) logo nos primeiros episódios. Os personagens não podem se mostrar satisfeitos, ou seja, a luta contra Deus tem que ser seu objetivo maior, onde, aqueles que mostram sentimentos como aceitação e alívio podem desaparecer, como Iwasawa no terceiro episódio do anime. Assim, os personagens não demonstram então seus verdadeiros sentimentos. Como isso não pode ser compartilhado totalmente, cada pessoa se sente mais pressionado e se revolta por conta de seus traumas, por isso o esquadrão liderado por Yurippe funciona.
Yuri então é uma das personagens que fazem a trama rodar. Maeda Jun cria a personagem como uma líder que movimenta os outros personagens a lutarem contra este “Deus”, onde eles acreditam que eles não mereciam a vida que tiveram. Os personagens levam a luta de Yurippe para si, onde muitos personagens a admiram. Só que isto acaba fugindo da ideia do que aquele mundo propõe em tentar ajudar aqueles que precisam aceitar estes seus traumas. Então, muitas vezes no anime, Yuri pode soar como uma personagem teimosa, já que ela não consegue enxergar outras perspectivas.
A Tragicomédia em Angel Beats
Uma das relações que o autor gosta muito de trabalhar em seus animes é a comédia e a tragédia, podendo ser denominada como tragicomédia, um subgênero que alterna e mistura a comédia com a tragédia e também o melodrama.
Começamos então com episódios em que vemos o lado mais cômico de cada personagem. Por meio deste alívio cômico, vemos as características de cada personagem que são bastante reforçadas. Assim, de certo modo, acabamos nos aproximando do personagem. Entretanto, tudo muda quando assistimos cenas mais sérias, onde nós, espectadores, não estávamos preparados psicologicamente para isto.
Essas cenas de tragédias são muito dos passados do personagem. Vemos sentido na revolta daqueles personagens que buscam luta contra o que viveram. Temos exemplo da própria Yurippe, que se mostra como uma personagem forte e determinada, que muitas vezes até rimos de como ela é mostrada. Mas ela teve um passado sombrio, onde perdeu seus três irmãos mais novos após um assalto em sua casa. Entendemos que sua morte foi suicídio, mesmo que a personagem não o confirme.
Este momento podemos denominar como “primeira crise” ou “primeiro ato”. Aqui, o personagem mostra quem ele realmente é, seus traumas, medo e sua história. Em Angel Beats isto é muito importante, já que mostra o motivo da luta de cada personagem naquele mundo. Assim, sentimos a importância daquela luta. Sentimos revolta com o passado de cada um. E assim, criamos empatia pelo personagem e compramos a luta dele na história.
Possíveis desapontamentos do público
Por mais que Angel Beats seja uma obra aclamada, vale ressaltar alguns de seus pontos negativos. Assim, um dos pontos que mais é debatido foi não desenvolver os personagens secundários da história. Maeda Jun acabou achando um jeito de desenvolver e escreveu o mangá “Angel Beats!: Heaven’s Door” de 2010, no mesmo ano que o anime foi lançado.
No mangá, o autor dá mais espaço para outros personagens, como por exemplo a personagem Shiina. Entendemos melhor depois porque ela é uma personagem fria e séria, tentando evitar contato com outros personagens. Também no mangá, vemos a origem do batalhão que Yurippe acaba fundando. Acredita-se que Maeda Jun não conseguiu desenvolver o resto dos personagens no anime porque o mesmo só teve 13 episódios.
Mais tarde, a obra ganhou uma adaptação para visual novel pela empresa Key, que fez outros jogos como Clannad, Air e Kanon. No jogo, vemos algumas cenas que aparecem no anime e também algumas do mangá que foi escrito por Maeda.
Entretanto, Angel Beats é um anime bom. Seja pela análise técnica, desde sua animação, trilha sonora, até a parte de seu enredo, é um anime sentimental, importante e fascinante para quem assiste. Por mais que tenha passado 10 anos de lançamento, é uma obra que merece ser assistida e recomendada, com uma premissa bem interessante e diferente que acaba emocionando o espectador quando assiste.
Maeda Jun, depois de passar por anos complicado após sofrer uma doença no coração e precisar de um transplante, ele vai voltar lançando um anime original em outubro deste ano chamado “The Day I Became a God”. Esperamos então uma obra com tons de fantasia e também cenas cheias de emoção. Angel Beats pode ser assistido no serviço de streaming da Netflix e também pode ser encontrado no catálogo de animes da Crunchyroll.